Queridas gestantes, minhas amigas, futuras parturientes.
Falo a vocês que, em menor ou maior grau, desejam um parto normal.
As que desejam de certa forma, passar pela quantidade mínima, considerada segura, de intervenções.
Nós sabemos que o parto cirúrgico é uma intervenção de grandes proporções no parto humano. Sabemos que corta 7 camadas de tecidos, que o bebê não se aproveita de todos os benefícios envolvidos nas contrações uterinas, onde seus órgãos internos são massageados vigorosamente, fazendo-os “acordar” para enfrentar o novo mundo que em breve se descortinará, sendo o último órgão a ser massageado o próprio pulmão, justamente no canal de passagem.
O parto cirúrgico especialmente aquele marcado com antecedência, impede, de forma contundente que o bebê dê sinais de que está pronto, fazendo assim que seja elevada a possibilidade de se fazer nascer uma criança que ainda não está à termo, ou seja, prematura.
Sei de mulheres que em maior ou menos grau, lidam bem com a cirurgia em si. No entanto, ademais dos riscos físicos para mãe e bebê, envolvidos em um processo cirúrgico, ficam aqueles riscos dos processos emocionais, psicológicos e espirituais envolvidos.
Mas tudo isso, nós já sabemos. E vocês já sabem e desejam um parto normal.
Então meu desejo hoje é falar com vocês sobre o parto normal.
Ele é infinitamente mais desejável que o parto cirúrgico, sua recuperação é claramente mais rápida, fácil e segura.
Mas nem por isso, deixa de envolver riscos (como tudo na vida).
A informação, hoje, sobre os processos envolvidos no ato de nascer, seja lá onde se escolha parir, não estão disponíveis largamente e discutidas suficientemente em sociedade para que estejamos seguras de nossas escolhas.
Mormente, os médicos se adonaram do parto e eles “fazem o parto” conforme aprenderam.
Aprenderam que a mulher para ter “passagem”precisa na maioria das vezes de um corte que deixa marcas na vagina da mulher, por lhe cortar as fibras musculares, mas é raríssimo haver um médico que ensine à sua gestante, durante o pré-natal que ficar de cócoras o máximo de tempo possível, e fazer exercícios para o assoalho pélvico podem reduzir consideravelmente as possibilidades de laceração. Poderiam também orientar, no momento da expulsão do bebê a não fazer força, e simplesmente respirar, que o corpo e o bebê trabalham em harmonia e a força somente deve ser feita ao se sentir os puxos, que é quando a mulher sente uma vontade irresistível de fazer força. Mas é a MULHER que sabe quando deve fazer e em que intensidade. Nesse caso, a ansiedade da equipe deve estar bem controlada, os medos esclarecidos, as necessidades de todos bem ponderadas e a mulher, consciente de todo o processo pelo qual seu corpo está passando.
O procedimento de cortar é chamado de episiotomia, ele é feito em sua maioria, como procedimento de rotina.
Quero deixar claro que não estou defendendo este ou aquele jeito de parir, mas me coloco aqui e frente à ausência de informação quando o assunto é os “comos” as coisas são feitas no chamado momento P.
No parto normal também é efetuado como rotina a indução, especialmente se a mulher chega ao hospital/maternidade com bolsa rota (já estourou a bolsa) e com poucos centímetros de dilatação. Em princípio pode parecer uma coisa boa, pois se a bolsa rompeu o bebê precisa sair logo! É o que pensa a equipe. E colocam a parturiente a tomar o famoso sorinho. Esse soro é um hormônio chamado icitocina sintética.
Nosso corpo produz durante todo o trabalho de parto e em doses “cavalares” durante o período expulsivo o hormônio ocitocina, também conhecido como hormônio do amor. É conhecido assim porque É O MESMO HORMÔNIO EXCRETADO NO ORGANISMO DURANTE E APÓS A RELAÇÃO SEXUAL e provoca aquela agradável sensação de bem estar e ligação íntima. Assim, ao trocarmos o nosso pelo sintético estamos impedindo que o nosso faça o seu sublime dever.
Agora uma pausa, um parêntesis – vamos imaginar uma coisa: quando fazemos amor, uma relação sexual – imaginem… luz de velas… jantar íntimo… clima… sussurros… e… final feliz!
Fácil de imaginar?
O hormônio maestro dessa harmonia toda é a ocitocina!
O mesminho, sem tirar nem pôr, do parto.
Agora imaginem de novo – você com seu bem, a pessoa que você ama aconchegada nos braços, um escurinho… de repente, sem aviso prévio, alguém acende a luz, entra pela porta e toca em vocês só pra ver se está tudo caminhando “como deveria”. Será que quebrou o clima?
Ok, a pessoa só está cumprindo com o dever dela, está monitorando sua relação, você racionalmente até compreende isso, mas… Cadê?? Pra onde foram os olhares apaixonados? E as palavras de carinho? Será que se assustaram? Tudo bem! Nós somos adultos! Vamos recomeçar. Só que o monitoramento ocorre a todo o momento… a ocitocina? Bem… essa também precisa de clima pra se manifestar.
Olhando as coisas por esse ângulo, Leboyer estava certíssimo ao incluir a penumbra como fator humanizador do parto.
Outro procedimento é a raspagem dos pêlos pubianos, chamada de tricotomia e a lavagem dos intestinos, chamada de enema, que também não configuram necessidade, conforme a medicina baseada em evidências hoje afirma.
Bom, enquanto pesquisava alguma maternidade onde pudesse parir minha filha, me informaram que os procedimentos de rotina, especialmente os citados acima – aplicação de ocitocina sintética, tricotomia, enema e episiotomia, são negociáveis!
Que a mãe pode parir até sem passar por alguns deles (como o sorinho, por exemplo), mas os procedimentos de rotina com a criança, eles não abriam mão. Na hora gelei. Procedimentos de rotina com o bebê?? Quais são? – além de medir e pesar: lavagem estomacal, intestinal, aspiração, banho, berçário para observação, injeção de vitamina K, pingar colírio de nitrato de prata e se demorar para ir para os braços da mãe: leite artificial e soro glicosado. O quê?? E o meu leitinho? Pensei. Naquele momento resolvi lutar pelo meu parto, do jeito como eu imaginava ser digno para a minha filha nascer.
Verifiquei a real necessidade de cada um desses procedimentos e sua origem e me senti segura para afirmar que minha filha não precisaria de nenhum deles. A única coisa que ela precisaria ao nascer era dos meus braços, meu colo e meu peito.
Eu tenho vontade de anunciar o que vem sendo recomendado pela Organização Mundial de Saúde e o que vem sendo praticado nos países desenvolvidos que é: em gestação de baixo risco, o mais seguro é parir em casa. Existe uma série de motivos para essa recomendação e uma delas é a cascata de intervenções executadas com a mãe que pode transformar o parto normal em cesariana. Mas vejo que isso é uma ooooutra história. Por enquanto me contento em dar meu ponto de vista sobre o que significa cascata de intervenções.
Queridas amigas, embora tenha muita vontade de apregoar o parto domiciliar, não o faço, pois reconheço as grandes limitações de todo nosso sistema de saúde, no entanto, sinto que é muito importante a gestante ter pleno conhecimento do que é feito em maternidades e hospitais e assim, assumir os riscos que envolvem parir nesses lugares. Eu assumi um risco também. Como tudo na vida. Viver é um risco, mas ao atravessar a rua, a gente sempre olha para os dois lados. Todas as informações aqui podem e devem ser cotejadas em fontes seguras. Tudo que escrevi aqui é fruto de minhas pesquisas para o parto da minha filha. Grande abraço. Fernanda.
Por que “cascata de intervenções”?
Diz-se cascatas de intervenções, pois, uma leva à outra. Ocitocina artificial potencializa muito as dores, muitas dores leva à anestesia, anestesia pode levar à ineficácia das contrações, o que leva à insensibilidade do momento de empurrar. Momento de empurrar (expulsivo) longo é igual a sofrimento fetal. Sofrimento fetal é igual à cesariana.
Quando a mulher é deixada em paz, sendo respeitosamente assistida, o seu corpo vai “dizendo” o que ela deve fazer, em que posições ficar, como se movimentar. O respeito e a tranqüilidade geram ambiente para a ocitocina trabalhar. E assim, aos poucos, a dilatação encontra lugar em seu corpo.