Pensamento inconsciente coletivo

Escrevi ainda agora: E o pensamento coletivo… ainda inconsciente.

É comum já, até pensar em inconsciente coletivo… Mas aí me levou a pensar no que seria um pensamento consciente coletivo, ou pensamento coletivo consciente ou uma consciência coletiva. Aí eu penso que é mais um caminho a ser trilhado que um conceito a ser discutido, mas podemos tentar definir, só mesmo a pretexto de reflexão.

A gente pode começar pelo sentido das palavras…

Pensamento… esse movimento interno que alguns pressupõe que se dá no cérebro, outros na alma ou no espírito…

Consciente… bem, essa parte começa a complicar, porque a maior parte do que temos por psique é basicamente inconsciente. A inconsciência domina a grande parte do nosso pensamento. São gestos condicionados por padrões de comportamento, padrões culturais, familiares, sociais que estão arraigados no pensamento, organizam nossa forma de ser e estar no mundo, em grande parte de forma inconsciente. Consciência mesmo é uma coisa que a gente exerce com esforço… consciente. Se deixar por si, facinho a inconsciência domina.

Aí, imagina, estamos numa sociedade, com um conceitos  pré-determinados com relação a uma porção de coisas, como o lugar do homem e da mulher, quem merece respeito e consideração, sobre posse e propriedade, sobre o que é sujo e o que é limpo… Aí que a gente se encontra. No Coletivo. A maior parte do nosso pensamento não  é inconsciente? Pois no coletivo acontece a mesma coisa.

Inconscientemente adotamos determinadas idéias como verdade somente porque tem mais gente pensando nela. Assim boatos se tornam verdades. Assim milhares de mulheres foram queimadas nas fogueiras na idade média, porque eram bruxas… ou um pensamento coletivo determinou que mulheres que tinham determinadas características fossem tratadas de determinada forma. Aí virou o que virou. Hoje em dia não se erguem mais fogueiras para queimar mulheres como fizeram naquela época. Mas a gente que se cuide. Porque o inconsciente coletivo não mudou muito e passa caminhando por aí à procura de verdades que possa erguer e embandeirar. Eu que não me cuido não pra ver o que me acontece. Guardo bem direitinho minha vassoura.

 

 

A Artista e a Doula – os mesmos paradigmas profissionais

Eu era produtora cultural. Escrevia projetos culturais, captava recursos via editais públicos e privados, administrava os recursos, prestava contas. Até que um dia escrevi um projeto para um certo edital. Era para uma prefeitura. Foi um ano difícil para a Cultura, enquanto mercado de trabalho. Ano de crise como disseram alguns. Para nós, só mais um ano difícil.

Arte e lazer não são políticas essenciais para os governos. Assim, os cortes sempre vêm primeiro para as pastas da cultura, do esporte e do lazer. Neste ano foi assim. Minguou o trabalho em todas as frentes. Públicas e particulares. Assim, quando o resultado daquele edital saiu, sentimos aliviados que podíamos respirar… e pagar nossas contas. Batalhávamos mês a mês cada produção, por menor que fosse para manter a dignidade como pessoa… e como artista… e quando chegou a data prevista para a execução deste projeto, a prefeitura, em ano eleitoral, comunicou que não iria executar a despesa.

Foi um momento difícil pessoalmente e profissionalmente. Neste ano decidi não escrever mais nenhum projeto para edital público. E para empresa privada… bem, também não escrevi mais. Depois desse episódio, passei a fazer mais e escrever bem menos. Mas fiquei refletindo… sobre o que passa no inconsciente coletivo quando se pensa sobre o artista.

Muito comum com a gente, quando alguém vinha conversar. Que legal! Você é artista! E além de fazer teatro você trabalha? Nossa resposta: Trabalho… eu trabalho com teatro… Mas a resposta mental era mais ou menos assim, com todo respeito e educação: Você acha que eu estou aqui de brincadeira? Ou outra pergunta: Nossa! Como você canta bem! Já pensou em cantar profissionalmente? Resposta: Sim… é o que estou fazendo… mas a resposta mental: Oi? Você acha que estou aqui por quê?

Parece óbvio… agora, principalmente pra mim que passei alguns anos trabalhando como artista, o caráter ilusório que as pessoas alimentam sobre o trabalho do artista. Não se sabe das horas de estudo, das horas, semanas, anos de pesquisa sobre determinada linguagem artística, sobre a construção viceral de um personagem, sobre o estudo das harmonias e solfejos, dedilhados, e sobre a busca incessante do figurino perfeito, da linguagem visual exata para a composição da cena que vai dar o impacto desejado, para comunicar o sentimento que escolhemos tocar.

Enfim, trabalho que se dá escondido dos olhos, mas o coração sente… percebe… e o artista se sente recompensado primariamente pelo sentimento da platéia. Certamente este é o principal alimento da arte.

Mas depois que cai o pano, e a maquiagem se escorre pelo ralo da torneira, junto com o sabão que lavou as mãos e o rosto do artista, ele tem que pegar o seu precioso soldo e ir, como uma pessoa comum, pagar suas contas, água, luz, telefone, aluguel. Na fila, muitas vezes nem se diferencia.

Hoje eu escolhi, depois da decepção com os editais públicos, outros rumos profissionais, não menos árduos, pois o pensamento do inconsciente coletivo permanece parecido com relação à profissão que escolhi. Os paradigmas continuam sob novas vestes. Agora sou Doula. E logo identificam nosso trabalho com a missão maravilhosa de ajudar a trazer bebês ao mundo. E vamos explicando que há também o empoderamento da mulher. E vamos trabalhando… disseminando informação, criando grupo de apoio, blog, Fan Page, página na internet, fazendo roda embaixo de árvore, em parque, em praça, e aonde mais for possível, em todo lugar, a qualquer hora, sabe-se quantas horas pode durar um parto… e neste tempo estamos lá. E a família em casa? Espera… filha… marido… esperam. A gente volta. Retorna. Só Deus sabe em que condições. Parto vaginal respeitoso, com mulher maravilhosamente empoderada? Voltamos como deusas vitoriosas de mais uma batalha vencida. Parto que não deu, virou cesa, sem certeza sobre a indicação, médico truculento, bebê mal recepcionado? A volta…, bem…, … difícil. E lá vamos nós recuperar as forças e continuar a luta. Informação, empoderamento, apoio e suporte contínuo.

E assim, com tanta beleza na missão, ainda fica no ar… seria ainda mais belo e puro, se não fosse maculado com as impurezas do capital. Seria angelical e doce, se pudéssemos nos pagar simplesmente com o prazer e a alegria de um parto bom e bem assistido, um bebê bem nascido, uma família unida em volta deste novo membro, com amor. Pleno e puro. Mas depois do parto, depois de estabelecida a amamentação, voltamos para casa e temos ainda que cozinhar, nutrir nossas crias, alimentar a relação com o companheiro, exaurida pela ausência. E ainda? Olha que coincidência! Pagar as contas!

Como artista, aplausos seriam minha recompensa, moedas no chapéu o suficiente. Como Doula, me restaria o sacerdócio, a paga com um leitão, mais do que bem pago. Só Deus sabe de mim. E o pensamento coletivo… ainda inconsciente.

Feedback da nova rotina

Olá,

estamos mais adaptados. Tudo ok com o trabalho novo, os novos horários. Dormir com o papai já é uma doce rotina. Agora, a mamadeira não chegou a entrar no cardápio. E o copinho de transição está cada vez mais de fora dos nossos hábitos. Ela está super sintonizada com o jeito fácil de beber qualquer líquido no copo comum, dos mais leves (água) aos mais consistentes (vitamina). Aprendeu tb a beber água no bico da garrafinha, costume aqui em casa.Da semana passada para cá, está comendo quase o dobro de quantidade de alimentos, engordou, cresceu e está brotando o terceiro dentinho de cima, o primeiro pré-molar, do lado direito. Isso não a deixou molinha ou irritada, somente um pouco febril outro dia e ontem, mais na região da cabeça, coisa ligeira, que não chegou a ficar com ela. No mais, parece turbinada com a energia desse nascimento e expressa sua alegria e vitalidade de todas as formas que lhe estão à disposição. Canta, roda, brinca, conversa, dá seus gritinhos, beija, acaricia, se recosta na gente e também, pula, come e degusta tudo que vem à sua frente. Esses dias, pela primeira vez cozinhei quiabo, uns orgânicos que meu Bem comprou, fiz uma panelada. Servi. Ela comeu com curioso interesse. Em seguida, devorava, como iguaria velhamente conhecida e desejada. Servi de novo. Comeu tudo. Primeira vez que repete um alimento já servido (sempre sirvo além do que acho que ela via comer. sou da opinião, melhor sobrar que faltar, e isso tb me dá uma dimensão do apetite dela…)

Me sinto abençoada.

Gratidão.

Beijos de luz.

*.*

Trabalho novo

Trabalho novo.

Das 17 às 22h.

Rotina nova. Algumas mudanças.

Dormir no peito – dormir no peito do papai. Mamar leitinho da mamãe – mamar no copinho de transição, ou no copo comum (será que vamos experimentar uma mamadeira?#não sei. não sou radicalíssima. sim, acho que pode ser útil. não, não vou dar leite de vaca. leite de bicho, só a do bicho mãe humana. Os demais, só de cereais e vegetais. sim, já comprei a mamadeira. não, não usei ainda… por falta de convicção).

As adaptações estão acontecendo de forma tranquila. Ela ficou superbem com a cuidadora, uma vizinha querida, desde o primeiro dia. Nem chorou. Com o pai, está aprendendo a dormir sem a mamãe. O pai, aprendendo a conhecer melhor a filha. Eu, aprendendo uma nova função em meu novo emprego. Aprendendo a reorganizar a rotina toda do dia e da noite – a minha, a dela, a da casa, a do pai também… Companheirão.

Sexta-feira, 23 de março faz uma semana.

Hummm que chamego...!

 

Parto Natural e o Alívio da dor

Olá!

Conheci hoje uma pessoa, gestante, mulher, e conversamos coisas sobre o parto, claro! =)

Então me lembrei que quando falamos sobre a dor das contrações, esqueci de falar sobre os métodos não farmacológicos de alívio para a dor.

Então, já sabemos que a anestesia pode ser bem aplicada e proporcionar maior conforto à parturiente. Cada pessoa tem seus limites e conhece-los e respeita-los é um bom posicionamento.

Assim, é importante saber também que existem meios de alívio da dor que não envolvem medicamentos e podem ser bem eficientes, inclusive podendo ser usados em conjunto para melhor aproveitamento!

São medidas simples como:

  • Se esbaldar em água quente – seja numa banheira, no chuveiro ou até uma bacia grande (como faziam antigamente… ou até hoje ainda façam em algum lugar? Quem sabe?) é excelente para auxiliar na dilatação e um alívio maravilhoso para as contrações;
  • Acupressão – é uma acupuntura que se faz por pressão dos dedos em determinados pontos.
  • Massagem – se em situações corriqueiras uma boa massagem já é uma boa pedida, imagine então no trabalho de parto! =) Nas costas, movimentos que auxiliam o corpo a trabalhar, alivia imensamente!
  • Liberdade de movimentos – andar, acocorar, rebolar, dançar…

Profissionais humanizados invariavelmente conhecem esses método e outros que imagino que devam existir. Esses foram os que usei, e usaram comigo, no parto da Clarissa.

Beijoss,

Fer

Sobre o que desencadeia o trabalho de parto…

Participo de uma lista que discute, trata, questiona e ampara as questões sobre o parto – a Parto Nosso. Então, uma das maternas da lista, levantou a questão sobre o que desencadeia o trabalho de parto, sendo que uma mulher com a vida super agitada pode iniciar o trabalho de parto com 40 semanas e outra com atividades amenas durante a gravidez pode parir com 38 semanas. Ou seja, rítmo de vida não interfere. Por outro lado, fatores externos, como descolamento de membranas, utilizado para desencadear trabalho de parto, também não é fator deternimante.

Diante do impasse, eis que surge a reflexão do Dr. Ric Jones, participante ativo da lista, falando sobre o subjetivo envolvido no processo, que por vezes passa desapercebido no pré-natais da vida.

Riqueza de sentido.

Um abraço,

Fer

O parto é algo que acontece entre as orelhas”,

me repetia Max o velho adágio das parteiras.

Não o procure nas dobras dos tecidos uterinos, nas protuberân­cias ósseas, nas contrações ou nas variações dos hormônios.

Ele se encerra nos pequenos grãos de areia de nossos sonhos, na bruma de palavras disper­sas de um passado distante.

Ele se refugia nos sussurros de uma menina, na curiosidade infindável que ela carrega e no seu olhar insaciável.

O parto e seus mistérios se escondem ao olhar superficial, à análise tímida e ao investigador amedrontado.

Para entender o que o comanda, é preciso penetrar nos abis­mos obscuros da alma de uma mulher, lá onde se abrigam seus sonhos e suas tristezas.

Quanto mais profundamente mergulharmos, mas nebulosa será nossa jornada.

Entretanto, apenas assim poderemos encontrar essa semente.

Talvez, apenas uma suposição, a chave para essa questão esteja mesmo li­gada a essa fissura aberrante na ordem natural, a qual chamamos amor.

E tal­vez, outra mera suposição, para entender o que acontece entre as orelhas de uma mulher, somente se soubermos como encontrar esta chave.

(Excerto do livro “Entre as Orelhas – Histórias de Parto“, no prelo, de Ricardo Herbert Jones)